O salto de sete quedas, que também era chamado de Salto Guaíra, foi a maior cachoeira do mundo em volume de água, até o seu desaparecimento, com a formação do lago da Usina de Itaipu. As vezes, quando os níveis da Itaipu estão baixos, podem-se ver alguns resquícios da grandeza que essa obra de arte da natureza foi.
Nesta postagem, falaremos sobre o turismo, a tragédia que aconteceu em 1982, que levou a morte de diversas pessoas, e, sobre o seu desaparecimento sob as águas da Itaipu, quando as comportas da hidrelétrica foram fechadas.
As sete quedas
O Salto Guaíra era um dos maiores pontos turísticos da América do Sul. As cachoeiras estão localizadas entre Salto del Guairá, no Paraguay, e Guaíra, no Brasil, estado do Paraná, desaguando no Rio Paraná. Relatos de diversas pessoas dizem que, sem dúvidas, era o ponto turístico mais lindo da América do Sul.
Saltos del Guaira
Guaíra era um dos destinos mais visitados do Brasil, a cidade chegou a ter 60 mil habitantes, criando uma rivalidade de relevância com as cataratas de Iguaçu. Recordistas em volumes de água, as cachoeiras eram constituídas de 7 grupos, totalizando em 19 quedas principais.
Saltos del Guaira
O ponto recebia milhares de visitantes todos os dias, e o comércio lucrava muito em cima do turismo.
O Alagamento
Devido a construção da hidrelétrica de Itaipu, a barragem que foi erguida fez com que todo o espaço acima dela ficasse alagado, assim, com toda aquela água acumulada, a produção de energia se torna constante.
Rapidamente, os turistas começaram a se preparar para as despedidas aos saltos, antes que estivessem completamente submersos. Isto acabou causando uma super lotação de turistas, visitantes e moradores das cidades vizinhas, que causou uma tragédia em 17 de janeiro de 1982.
A Tragédia
A ponte Presidente Roosevelt era uma das passarelas que davam acesso às cachoeiras, no caso, o salto 19. Durante uma travessia de vários turistas, com data préviamente citada, a ponte não suportou o peso e cedeu, deixando várias pessoas sob a fúria das águas do Rio Paraná.
A ponte Presidente Roosevelt após a queda
Pescadores que estavam no local se jogaram contra a correnteza e conseguiram salvar 6 pessoas. 32 morreram na tragédia, 3 dos corpos, nunca encontrados. A causa do acidente aponta que, os motivos da queda da ponte foram a negligência do pessoal que fazia a manutenção da ponte, juntamente do aumento descontrolado da visitação (assista a matéria sobre a tragédia aqui http://goo.gl/G6CAxC).
O fim das Sete Quedas
Em 13 de outubro de 1982, as comportas de desvio da Itaipu começaram a se fechar, cobrindo tudo o que estivesse acima da barragem, quilômetros de água submergindo toda uma natureza conhecida pelo homem, que agora, estava inalcançável. Neste espaço alagado, se encontram hoje, os sete saltos, completamente submersos.
A estrada que levaria até os saltos, agora tomada pelas águas da inundação
O alagamento durou apenas 14 dias, pois o rio estava em uma época de cheia, e, todas as usinas acima da Itaipu abriram suas comportas para acelarar o processo de enchimento do lago. Nos dias seguintes, o que ainda podia se ver dos saltos eram as copas das árvores. Pessoas que presenciaram os estágios deste fim, diziam que era uma cena triste de se ver, pois as copas das árvores pareciam mãos pedindo socorro.
As 19 cachoeiras após o alagamento.
População revoltada com o alagamento
Após as quedas estarem submersas, o povo de Guaíra se revoltou com o sistema, organizando protestos e manifestos em prol da re-avaliação do projeto de Itaipu, para abrir as comportas e então, trazer de volta a paisagem.
O manifesto mais conhecido foi o “Quarup”, um encontro indigena que trouxe pessoas de todos os cantos do mundo para protestarem sobre a criação da Itaipu. Neste encontro, as pessoas expuseram seu ressentimento pelo ocorrido, cantando canções, dançando e agitando o movimento, para talvez, serem reconhecidos pelo governo.
A criação da Itaipu prejudicou Guaíra economicamente e geograficamente, pois com a vazão das águas, a beleza exuberante que as quedas tinham foi completamente escondida dos olhos humanos; além de, prejudicar o turismo, este que, diminuiu drasticamente, afetando todo o comércio e economia da cidade.
Foram feitos outros manifestos também. No entanto, como a ditadura imperava na época e a repressão era eminente, os chamados populares não obtiveram resposta. Os pedidos todos ignorados, pois, afinal, envolvia todo um sistema, um governo e muita política. As dezenove cachoeiras permanecem até hoje adormecidas com as águas.
Salto Guaíra, agora escondido por um espelho de água
Não é possível ler a respeito de tais acontecimentos e não sentir um pouco de tristeza. Toda a beleza de um cenário incrível entregue aos homens pela natureza, um lugar cheio de vida e paz que, sob uma palavra de um certo indivíduo, sucumbiu às profundezas do Rio Paraná.
Claro que a Itaipu foi uma construção que trouxe grande prosperidade para toda nação, e podemos considerar isto uma troca. Uma beleza natural por uma beleza artificial. No entanto, o povo de Guaíra saiu perdendo. E o que restou não foi nada além da ilusão, do fantasma da maravilha que o mundo oferecia, esta, para ser contemplada pelo ser humano, e para ajudá-lo a entender que grandeza é um termo muito mal interpretado e um tanto desconhecido. Como disse Carlos Drummond de Andrade, “Vamos oferecer todo o conforto que a luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem resgate, empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquece-lá”.